Depois da tua experiência nesta instituição, e a propósito do mote de DC deste semestre, identificas-te com as referências apresentadas e sentes-te inserido num contexto de juventude em marcha?
Tiago Moura (aluno)— Não me sinto inserido num contexto de juventude em marcha. Acho que essa consciência é algo que não faz parte da nossa geração, mas também acho que o objectivo de um tema para o programa de DC é exactamente fazer-nos pensar. Com a juventude em marcha, mostraram-nos o quão letárgicos podemos ser. Apesar de não me sentir parte de uma juventude em marcha e de não me identificar muito com as referências apresentadas, sei que elas existem para as estudarmos e retirarmos alguns conhecimentos que nos levem a agir.
H+— O professor António Nicolas disse numa aula que a grande característica desta instituição é fazer os alunos pensar sobre os projectos. Achas que essas referências muito especificas que te apresentam desde o primeiro ano e, por exemplo, as visitas às exposições te fazem ter uma consciência diferente? Mais ambiental, mais social, mais política— não necessariamente partidária…
TM— Não… Por exemplo, as vanguardas russas são uma referência importante por serem um marco em termos de arte pré-design, mas não as interpreto como sendo referentes absolutamente políticos. Eu percebo que são motivados pela política mas não acho que nos influenciem a criar mais acções com força política ou presença social…
H+— Não precisa de ser política, até pode ser ambiental, cultural, social… Jovens em Marcha talvez esteja um bocado conotado politicamente…
TM— Quando vi pela primeira vez o enunciado achei que era uma provocação para tentar que agíssemos mais, já que fazemos parte de uma juventude muito passiva. Mas penso agora que o objectivo era reflectirmos sobre para onde estamos nós a marchar. Questionarmo-nos sobre o que vamos fazer depois, sobre que direcção esta geração está a tomar, sobre o que é que nos define enquanto jovens?
H+— Mas achas que o facto de seres confrontado com uma diversidade de factos históricos, e com certo tipo de briefings te faz pensar sobre aquilo em que vais mais tarde trabalhar? Pensas ser importante realizar trabalhos com alguma relevância ou uma causa implícita?
TM— Eu acho que o propósito das referências não é abrir-nos os olhos, porque não acho que estejamos de olhos fechados. Podemos intervir num contexto mais social, e eu percebo isso e acho que as referências servem para nos fazer pensar mais nesse sentido e fazermos algo socialmente importante. Se quisermos. Mas não acho que sejam coisas que me vão influenciar… pelo menos não acho que terão muita influencia no meu futuro e me tornem um designer que se dedique mais a um determinado contexto sociopolítico.
H+— Mas ao falarmos de uma causa política não tem necessariamente de ser partidária. Pode ser uma causa diferente. Tens vontade de trabalhar para uma agência de publicidade e não ter oportunidade de explorar essas áreas?
TM— Mas posso dizer que prefiro trabalhar em projectos com algum significado para mim a vender sumo ou sapatos.
H+— Mas achas que isso é incutido pela faculdade ou é uma ideia tua?
TM— Sim, isso é incutido pela faculdade. O principal ensinamento que retiramos desta experiência académica é a necessidade de entender os projectos, de olhar para o design de uma forma mais crítica. E acho que uma vez adquirida essa consciência, todo o trabalho publicitário mais superficial me vai parecer pior e vou dar mais valor a objectos com mais significado e maior valor estético. Objectos com conceitos muito fortes por trás à partida têm um ciclo de vida maior e têm uma influência grande na forma como as outras pessoas te vêm a ti. Por isso acho que como designer é muito mais importante criar uma marca num determinado assunto do que fazer qualquer coisa superficial que só exista durante um curto espaço de tempo. Nesse sentido, a faculdade influencia-nos muito. E lá está, as vanguardas russas mostram-nos isso, por serem arrojadas e não só por estarem ligadas a um contexto político.
Apesar de não me identificar com o tema da juventude em marcha, não quer dizer que não tenha nenhuma consequência depois. Eu acho que é mesmo essa a ideia, porque na realidade os professores tentam que olhemos para um conjunto de referências e comecemos a criar paralelismos com outras assuntos.