Já vários professores referiram que as estratégias de abordagem aos problemas apresentados, bem como as estratégias visuais e estéticas dos alunos da FBAUL, são demasiado semelhantes. Tendo em conta que nos inserimos numa época que contempla tantas, e tão distintas, correntes estéticas e de pensamento, quais as razões dessa semelhança?
Madalena Espírito Santo (aluna)— Somos tão influenciáveis nestas idades, que é normal que as referências que nos apresentam nos encaminhem para um certo estilo— atenção que estilo pode ter uma conotação negativa— e modo de resolver problemas. Aqui, nas Belas Artes, o estilo é diferente principalmente pela maneira como pensamos o que fazemos, que não é bem, ou só, design mas sim comunicação… Claro que estudamos a comunicação através do design gráfico. Também é diferente por ser muito ligado à cultura e ao design de…
H+— Design de Autor?
MES— Exactamente…. E não só. E talvez esses campos se relacionem a níveis estéticos…
H+— Depois de uma análise extensa de enunciados, já concluímos que os referentes da FBAUL são muito característicos e semelhantes entre cadeiras…
MES— E são… E ao longo dos 3 anos vão se repetindo…
H+— E também já estamos a admitir que essa aproximação entre referentes e abordagem estética existe. Ou seja, a abordagem escolhida é sempre consequência dos referentes aos quais o problema está associado.
MES— Aquilo que fazemos, e a maneira como o fazemos, está fortemente ligado às referências que nos apresentam. É necessária uma bagagem imensa de referentes, que justifiquem e informem o nosso trabalho. E por um lado isso é interessante, porque nos credibiliza a nós e ao trabalho e porque nos dá “mais mundo”. Mas também acaba por tornar os nossos trabalhos muito fechados em relação a uma temática… Fechados porque os referentes partem de áreas muito académicas e teóricas, como a estética, a crítica,
a história…
H+— E isso é algo positivo?
MES— Isso não só é uma aspecto positivo do curso, como nos ensina muito. Ensina-nos a pesquisar, a saber seleccionar o que é mais importante explorar, a não restringir a nossa competência a logotipos e embalagens. E mesmo que façamos logotipos e embalagens, que os façamos de forma mais informada e justificada.
Por outro lado, estes referentes podem se tornar perigosos se não tentarmos procurar para além deles, se nos contentarmos com o que está no enunciado. E aí sim, os trabalhos acabam por ficar muito semelhantes.
Devemos olhar para as bibliografias como pontos de partida, que talvez seja o que muitos ainda não fazem. Acabam por se focar em referentes óbvios, como o principal, que é o tema. Mas temos que tentar encontrar outros argumentos, principalmente se não concordarmos com os temas que nos dão e as ideias que vão impondo. É normal que nos imponham certas referências, é assim em qualquer instituição. Mas parecendo que não, nos enunciados existe sempre uma certa liberdade para contestar.
H+— Achas que somos incentivados a procurar outras respostas?
MES— Acho que somos. Os professores pedem-nos isso. E não é só nas cadeiras de projecto, mas noutras como Audiovisuais e Multimédia. O que nos é dado é apenas um ponto de partida e cabe-nos a nós, com esforço, ultrapassá-lo. Como alunos também ensinamos os professores, ao apresentar outros referentes.
Eu percebo que nos sintamos um pouco presos aos enunciados, que apresentam sempre grandes nomes, com grandes teorias e que acabam por ser grandes exemplos para nós. E no fundo relacionam-se todos uns com os outros.
H+— Sentes que essa aproximação de estilo é o resultado da partilha de um conjunto de enunciados que é tão especifico e próprio?
MES— Sim! Mas se virem os resultados finais dos projectos de outras cadeiras, como por exemplo Design Editorial, os resultados não estão assim tão presos aos referentes iniciais. As estratégias conceptuais e formais é que acabam por convergir, sim. Mas isso não tem só a ver com os enunciados. É normal que 60 alunos que convivem diariamente se acabem por sintonizar. E isso é interessante, desde que depois não acabe por se tornar apenas maneirismo ou moda.
O “estilo” só é interessante se for informado e reflectir um conjunto de referências, e isso é um esforço que deve partir de nós, e talvez dos professores que poderiam alargar um pouco as temáticas. Mas eu também me pergunto, e para onde? Estes referentes estão muito ligados ao modo de pensar o design dos docentes da FBAUL.
H+— Sim, e em última análise a história do design é relativamente recente…
MES— Mas podemos, e devemos, alargar as referências para fora do design…. Em última análise acredito que quando sairmos daqui também vamos fugir um pouco destes referentes, ou até praticar outra profissão. Quanto a vocês, qual é a vossa opinião?
H+— Exactamente isso. Que apesar das direcções projectuais propostas nos obrigarem a uma reflexão mais profunda e interessante, que depois se manifesta a nível de execução, talvez acabemos por ser todos formatados…
MES— Mas não é um formatado necessariamente mau… É formatado, para o bem e mal.
H+— Claro que sim.
MES— Se nos ensinam a ter um olhar crítico perante tudo, então vamos ter também um olhar critico em relação aos referentes que nos apresentam e à maneira como nos propõem resolver os briefings.
Por exemplo, podiam dar-nos mais incentivos que nos encaminhassem para áreas como a serigrafia… Fazem falta mais oficinas e técnicas hands-on, tal como aulas práticas, apresentação de mais soluções que não sejam apenas o indesign, que acaba por nos levar a todos pelo mesmo caminho.