“Deve sedimentar [a educação em Design de Comunicação] o entendimento do Design de Comunicação como uma actividade não meramente humana mas sobretudo humanista. O design é uma actividade enquadrada numa sociedade devendo portanto responsabilizar-se pelas consequências sociais, culturais e ambientais da sua acção.” O programa da disciplina de DCII inicia-se com a acima transcrita citação de Krzysztof Lenk, na qual o autor refere a importância do design para o bom funcionamento da sociedade na qual se insere. Tomando como ponto de partida para a nossa questão as palavras de Lenk, gostávamos de saber se ao longo dos anos que tens passado na FBAUL, te tens envolvido em projectos nos quais o design surge como ferramenta impulsionadora de um bem estar social, económico, cultural ou ambiental? Quais e Porquê?
Carolina Novais (aluna)— Logo no ínicio da faculdade surgiu a oportunidade de eu ilustrar um livro, de um amigo. Trata-se de um projecto que já dura há um ano e por isso é interessante analisar a forma como o meu percurso na FBAUL influenciou esse mesmo trabalho. Ao olhar para as primeiras ideias que tive de ilustrações e paginação, percebo que já não me revejo nelas, exactamente porque quanto mais aprendo aqui, mais me quero desafiar lá fora e mais exijo de mim.
Este não é o único exemplo de um momento fora da faculdade em que revejo claramente o meu percurso académico… No Greenfest, por exemplo, tive que fazer a montagem de um stand que deveria ser a entrada, onde as pessoas faziam a creditarão, e só podia usar caixas de cartão. A verdade é que era o único material disponível para criar uma espécie de escultura ou instalação… E apesar de aquele momento ser mais um momento de design de produto, ou de espaços, vejo-me a dar real uso a muitos ensinamentos da faculdade. Como comunicar com as pessoas? Como mostrar que aquele era o espaço de creditarão e que as pessoas se deveriam dirigir lá? Isto tudo apenas usando caixas de cartão… Afinal de contas aquele stand era parte da primeira impressão que as pessoas tinham do Greenfest.
H+— Achas que a tua vontade de te envolver nesse tipo de projectos surgiu aliada à forma como somos ensinados aqui na Faculdade, e às referências que nos apresentam? Referências essas que nos forçam a ser mais pró-activos e a trabalhar sempre para além das funções óbvias de um designer gráfico…
CN— Ao pensar na quantidade de designers que se formam todos os anos, não deixo de me assustar com a competitividade entre eles no que diz respeito a encontrar um local no mercado. Posto isto, penso sempre naquilo que posso fazer para me destacar dos outros e para me superar. E isso é-nos transmitido aqui a faculdade, devemos sempre tentar ir além do óbvio.
Por outro lado, sinto que aqui existe um pensamento um pouco tradicional… Este semestre estou um pouco saturada dos trabalhos que estamos a fazer, mas por outro lado acredito que tudo o que me forneceram, a nível de referências, é uma base para começar a pensar o design de outra forma. Parecendo que não, todos os textos e filmes complementares ajudam os alunos a criar um novo olhar perante o que os rodeia. Também é verdade que às vezes era útil que nos pedissem para criar projectos para fora da faculdade porque não existe apenas o aqui e agora, estamos a preparar-nos para enfrentar uma realidade completamente distinta desta.
H+—A tua ambição é resultado do teu percurso aqui?
CN— Não necessariamente. Apesar de a incentivarem, já me envolvo noutros projectos desde o secundário.
H+—E quanto às tuas capacidades críticas? Cresceram aqui na faculdade?
CN— Sim, sem dúvida. Disciplinas como projecto, Cultura Material, História e Critica, ajudaram-me imenso a desenvolver um espirito mais critico e mais atento em relação ao que me rodeia. Agora até quando viajo penso melhor antes de comprar lembranças, no sítio de onde elas vieram, na história (ou falta de história) delas… Comecei a questionar coisas que até então eram insignificantes.