H+ — dos enunciados à acção?

“ Art is not outside politics, but politics resides within its production, it’s distribution and it’s reception.” excerto retirado do ensaio “Politics of art: Contemporary Art and the transition to Post Democracy” de Hito Steryl, uma realizadora de cinema alemã. Depois de ler este excerto do ensaio lembrámo-nos das visitas que fizemos consigo e com o professor Victor Almeida ao CCC (Centro Cultural de Cascais) para ver a exposição das vanguardas russas e ao Museu do Oriente para ver a exposição “Cartazes de propaganda chinesa, a arte ao serviço da política”. Longe de acreditarmos que o design se constitui como uma solução eficaz e permanente para os problemas sociopolíticos, culturais e ambientais que nos rodeiam, sentimos que no primeiro ano foi dada especial atenção à relação da arte (mais especificamente do design) com o ambiente social e político em que se circunscreviam. O que motiva essa opção temática para o primeiro ano?



Cândida Teresa (professora)— Os enunciados, programas e briefings são de certa forma o retrato daquilo que nos parece pertinente desenvolver com os alunos, a partir do que consideramos expectável para um determinado ano. E todos os anos fazermos novos desenvolvimentos do programa. Seria possível reavivarem-me a memória relativamente ao vosso primeiro ano?
Os enunciados e programas são de certa forma o retrato daquilo que nos parece pertinente desenvolver com os alunos, a partir do que consideramos expectável para um determinado ano. E todos os anos fazermos novos desenvolvimentos do programa.



H+— Num primeiro exercício, começámos por realizar o roadbook, a partir de uma visita por Lisboa e depois, num segundo momento, desenvolvemos, o poemário, inspirado nos movimentos dadaísta, futurista e modernista. No segundo semestre, concentrámo-nos na criação do OMI (O Museu imaginário) em grupo, e na criação individual de um livro de ilustrações.



CT— No primeiro ano, começa a grande distinção entre aquilo que é um aluno do ensino secundário e um aluno universitário. Quando aqui chegam, somos confrontados com vossa pressa de fazer as coisas, que nós tentamos refrear. O nosso objectivo é que aprendam a fasear os exercícios e isso implica o desenvolvimento de um projecto, para o qual a investigação é uma das fases mais importantes. No terceiro ano, este processo é quase automático, os alunos já interiorizaram que para chegarem a um determinado objectivo têm de cumprir um “protocolo”.
Para Design de Comunicação e Metodologia do Projecto existe um programa, como para qualquer outra disciplina. É a estrutura seca e “bruta” daquilo que vos será ensinado. Existem depois os anexos, que entregamos em mão, com os desenvolvimentos e características particulares de determinados temas e trabalhos, permitindo um melhor entendimento do programa. De seguida, são explicados os briefings de cada etapa, que requerem uma resposta por parte dos alunos.
O programa surge assim como o primeiro momento de comunicação entre o professor e aluno, com o objectivo de o orientar durante o seu percurso.



H+— Existe um propósito social e político nos enunciados/ briefings propostos?



CT— O contexto social e político é muito difícil de dissociar do que é ser designer. Antes de ser designer, o designer é cidadão e, desejavelmente, um cidadão com mais responsabilidade porque é designer.
Como professora e designer, não me interessa formar designers iguais a mim mesma, mas considero relevante formar futuros designers e prepará-los para agir enquanto cidadãos socialmente responsáveis. Uma vez consciencializado, o aluno pode criar as suas próprias opções e delinear o caminho que pretende tomar.
É neste ponto que se enquadram as referências que vos indicamos, como livros ou filmes que foram importantes para a nossa própria formação e que permitem alargar o vosso conhecimento. No primeiro ano, podem ainda não compreender certos referentes, mas mais tarde hão-de se aperceber que tudo o que aprenderam foi útil para a criação do vosso percurso. O ensino universitário é um processo; uma história que começa com o aluno dependente do acompanhamento dos professores, que mais tarde se transforma num indivíduo capaz de trabalhar autonomamente, que deve depois continuar a investigação e a procura de conhecimento, para saber mais e fazer melhor.



H+— Existe então alguma relação desse propósito com a escolha das visitas de estudo do nosso primeiro ano (2012-2013): a exposição das Vanguardas Russas no CCC e a exposição da Propaganda de Mao no Museu do Oriente?



CT— Existe uma intencionalidade na escolha, mas por outro lado existe também o acaso de essas exposições existirem e estarem a acontecer no momento oportuno. Por um lado, relacionamos as visitas com aquilo que desenvolvemos nos anexos e por outro lado, fazemos pesquisa prévia para conhecer o calendário cultural desse ano lectivo.
No caso do vosso ano, estudávamos o cartaz enquanto cartaz político e de intervenção e qual o seu papel numa revolução. Nesse contexto, tiveram de desenvolver um cartaz/manifesto, pelo que a existência da exposição da Propaganda de Mao possibilitou dar-vos a conhecer pontos comuns que podiam facilitar a produção do exercício.
Na exposição das Vanguardas Russas, o cartaz serve o mesmo efeito, mas distancia-se mais relativamente ao tipo de cartaz de propaganda que tinham já visto. As Vanguardas resultam de um momento equivalente, mas diferente em termos culturais. Os dois tipos de cartaz têm em comum pertencerem a momentos revolucionários e de viragem, com o mesmo tipo de orientação política, mas que depois tiveram diferentes tipos de influência no futuro. Os cartazes chineses servem a propaganda, enquanto que os cartazes russos acabam por deixar um legado artístico, influenciando outros movimentos posteriores.
O principal motivo para a escolha das visitas a exposições é o facto de estas fazerem parte do calendário cultural de um determinado momento, sendo depois criteriosamente preparadas e apropriadas para o que estamos a desenvolver e para o leque de conhecimentos que pretendemos que adquiram.

Projecto H+
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Design de Comunicação V
Faculdade de Belas-Artes
Universidade de Lisboa