Esta edição do clássico de Albert Camus, O Mito
de Sísifo (1941), propõe uma experiência de leitura
análoga às ideias apresentadas pelo escritor. Os quatro
capítulos principais iniciam-se nas primeiras páginas,
um a seguir ao outro, marcando a ordem que orienta o
resto da paginação. Se alguém decidir ler o livro de forma
sequencial deparar-se-á com a estrutura intercalada dos
capítulos (A-B-C-D-A-B-C-D…). Tal como Sísifo, que
sobe a montanha carregando uma pedra que rola para a
base quando este atinge o cume, condenando-o a subir a
mesma montanha eternamente, o leitor que pretenda ler o
texto pela ordem correcta terá de chegar várias vezes ao
“fim” do livro, recomeçar no ponto de partida o capítulo
seguinte e atravessar as mesmas páginas para (voltar a)
acabar. No final do livro e correndo no sentido contrário
do restante texto, de pernas para o ar, surge um apêndice
ao texto (como um quinto capítulo). Cada capítulo usa uma
fonte tipográfica diferente que acentua o carácter absurdo
do livro. Quando confrontado com este desafio de leitura,
o leitor tem perante si duas hipóteses: a desistência — ou
aquilo que em O Mito de Sísifo seria o suicídio —, ou a
insistência na leitura — aquilo que Camus advoga como
uma revolta legítima perante o absurdo do mundo, e neste
caso do livro.