O Mito de Sísifo

Guilherme Sousa

Esta edição do clássico de Albert Camus, O Mito de Sísifo (1941), propõe uma experiência de leitura análoga às ideias apresentadas pelo escritor. Os quatro capítulos principais iniciam-se nas primeiras páginas, um a seguir ao outro, marcando a ordem que orienta o resto da paginação. Se alguém decidir ler o livro de forma sequencial deparar-se-á com a estrutura intercalada dos capítulos (A-B-C-D-A-B-C-D…). Tal como Sísifo, que sobe a montanha carregando uma pedra que rola para a base quando este atinge o cume, condenando-o a subir a mesma montanha eternamente, o leitor que pretenda ler o texto pela ordem correcta terá de chegar várias vezes ao “fim” do livro, recomeçar no ponto de partida o capítulo seguinte e atravessar as mesmas páginas para (voltar a) acabar. No final do livro e correndo no sentido contrário do restante texto, de pernas para o ar, surge um apêndice ao texto (como um quinto capítulo). Cada capítulo usa uma fonte tipográfica diferente que acentua o carácter absurdo do livro. Quando confrontado com este desafio de leitura, o leitor tem perante si duas hipóteses: a desistência — ou aquilo que em O Mito de Sísifo seria o suicídio —, ou a insistência na leitura — aquilo que Camus advoga como uma revolta legítima perante o absurdo do mundo, e neste caso do livro.