Foi no tempo que se anulou este livro, que houve liberdade para desistir de todas as ideias e de assumir uma não-ideia para um não-livro. Num arquivo de pesquisa há uma aproximação a um objecto que se podia chamar final.
A pesquisa fez-se sobre o livro, o livro fez-se sobre ele próprio. Um livro sobre si mesmo anula-se pois é, no final de contas, um objecto inútil. Metafísico, provavelmente, mas a metafísica em si não é um fim. Um livro sobre o livro, que para o ser procura não ser sequer. Um livro sobre ele próprio é uma afirmação da sua vontade de não existir, de voltar à ideia. Daí o confronto com os conceitos específicos explorados no arquivo de pesquisa, que servem para orientar no espaço um objecto que desse espaço quer fugir. Criar confusão, mais ainda do que no início, talvez seja a resposta mais sólida encontrada, ainda que no final, qualquer esclarecimento é também arrependimento: arrependimento de ter perdido a confusão original e caótica que se ordenou numa confusão controlada e encadernada. Este livro sobre este livro, sobre o livro e sobre um livro, tem de existir para que depois possa ser esquecido e para que se crie de raiz um livro que não exista, aprendendo com os erros cometidos ao fazer este livro existir.